sexta-feira, 12 de maio de 2017

Como lidar com o ritmo repetitivo e sufocante do dia a dia?

“Se você quer ganhar mais, deve trabalhar menos”. O título de uma matéria publicada no site da BBC Brasil no fim de abril chamou minha atenção. A reportagem mostrava pesquisas recentes que indicam que a produtividade de uma pessoa cai consideravelmente após jornadas muito longas de trabalho. No Japão, onde a cultura workaholic é bastante presente, vêm sendo registradas várias mortes por excesso de trabalho.

O Ministério de Saúde, Trabalho e Bem-Estar Social do Japão lançou o primeiro relatório sobre karoshi (nome dado pelos japoneses ao fenômeno) em outubro do ano passado e apontou que cerca de uma em cada quatro empresas (ou 23%) têm funcionários fazendo mais de 80 horas extras por mês. Um dos exemplos mencionados na matéria foi o de Stuart Nomimizu, que chegou ao ponto de desmaiar em seu apartamento, após jornadas extenuantes.

Nos Estados Unidos, conforme apontou uma pesquisa recente do instituto Gallup, também mencionada pela BBC, quase um em cada cinco funcionários (18%) trabalha 60 horas ou mais por semana. Porém, um estudo da Universidade de Stanford (EUA) mostrou que a produtividade cai significativamente após mais de 50 horas de trabalho na semana. Como constataram os estudiosos, alguém que trabalha 70 horas semanais pode chegar ao ponto de ser incapaz de produzir algo durante as 14 horas adicionais.

Sendo assim, por que as pessoas trabalham compulsivamente? Os indivíduos gastam suas energias em trabalho e estudo, numa corrida desenfreada contra o tempo, apegando-se à vida, enquanto ela parece escapar de suas mãos. Essas questões me fazem lembrar das palavras de um antigo sábio, registradas no livro de Eclesiastes.

A busca por sentido
Eclesiastes é um dos livros bíblicos mais queridos fora dos círculos cristãos, sobretudo por discutir um assunto que, por natureza, é universal: a experiência do homem diante da vida e seu pensamento diante da morte. Ao que parece, o autor desenvolveu sua análise já em idade avançada e, por isso mesmo, sentindo a morte se aproximando. O jeito de falar sobre essas questões chamou tanto a atenção dos leitores, que Herald Bloom, um dos críticos literários mais famosos da atualidade, chega a dizer que “a vaidade, ou o desejo caprichoso, pertence a todas as tradições, com efeito, à própria natureza humana”, e então acrescenta que somente o autor de Eclesiastes, “na Bíblia, concorre com Shakespeare”.

A análise de dois versos quase sinônimos em Eclesiastes ajuda a compreender a mensagem central do livro: “Vaidade de vaidades, diz o Pregador, vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Ec 1:2) e “Vaidade de vaidade, diz o Pregador, tudo é vaidade” (Ec 12:8). Esses versos marcam o início e o fim do livro. O que temos antes e depois é o que podemos chamar de prólogo e conclusão. Portanto, todo o discurso pode ser resumido em uma frase: “Tudo é vaidade”.

Além disso, existe a sugestão de que Eclesiastes “se articula ao redor de três conceitos, já presentes em seu prólogo: ‘tudo é vaidade’, ‘não há propósito para o trabalho do homem’ e ‘tudo é repetitivo’, de modo que as três palavras-chave do livro são: ‘vaidade’, ‘trabalho’ e ‘debaixo do sol’” (O livro mais mal-humorado da Bíblia, p. 93-95).

Embora o termo “vaidade” apareça na maioria das Bíblias em português, esta não é a única possibilidade de tradução para o termo hebraico havel, que também pode se referir a “vento”, “vapor”, metáfora para o que é efêmero e transitório, conforme se pode observar em Tiago 4:14: “Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa”.

Em meio ao ritmo repetitivo e sufocante do dia a dia, e em face da transitoriedade da vida, Salomão empreendeu uma busca por significado. Porém, diferentemente do que se apresenta no livro de Provérbios, a busca em Eclesiastes não é para alcançar sabedoria, mas para alcançar algo através da sabedoria. Como afirma Dianne Bergant, professora de Antigo Testamento, o autor de Eclesiastes “representa a si mesmo como um sábio rei… Ainda assim, ele não estava satisfeito com o que a vida lhe havia proporcionado, de modo que se propôs a descobrir a profundidade e a largura de todos os esforços humanos. Possuindo a sabedoria necessária, riqueza, poder e liberdade, ele estava mais bem equipado do que a maioria para embarcar nessa busca” (Israel’s Wisdom Literature: A Liberation-Critical Reading, Fortress Press, 1997, p. 34).

A descoberta de Salomão
Em sua análise da vida, Salomão narrou as coisas que acontecem debaixo do sol. Essa expressão, que aparece trinta e cinco vezes em Eclesiastes e em nenhum outro lugar da Bíblia, é usada para dizer que as realizações e prossecuções humanas, do princípio ao fim, em si mesmas não passam de atividades sufocantes, efêmeras, paradoxais e, finalmente, inúteis. A própria “normalidade e regularidade do mundo natural, usadas nos primeiros livros de sabedoria para encorajar a harmonia social (conferir Pv 30:15-33) são caracterizadas aqui como monótonas e destituídas de qualquer tipo de progresso”, comenta Bergant.

Ao fim de sua busca, Salomão aprofundou algumas convicções: (1) a morte cancela tudo, e vem para todos: tolos e sábios; então, por que correr atrás do vento? (2) a sabedoria não tem um fim em si mesma: ela vem de Deus e nos leva para Ele; (3) Deus trabalha constantemente para o bem de Seus filhos; por isso, (4) o ser humano deve desfrutar de prazer saudável, uma vez que ele se torna o único meio de salvaguardar uma porção na vida, e o Criador implantou no homem a capacidade de ser feliz; (5) há tempo para tudo debaixo do sol. Com isso, longe de louvar o ócio, o livro de Eclesiastes nos convida a ser equilibrados quanto ao uso do tempo.

Ao apresentar sua síntese, Salomão conclui com uma exortação que mais se parece com uma fórmula de contentamento e satisfação mesmo dentro de um mundo imperfeito: “Teme a Deus e guarda seus mandamentos” (Ec 12:13). Assim, ele expressa sua confiança de que a vida e suas realizações estão sob a direção e os cuidados de Deus.

Nilton Aguiar (via Revista Adventista)
"Deus é misericordioso, cheio de compaixão, razoável em Seus requisitos. Ele não nos pede que sigamos uma maneira de proceder que dará em resultado a perda de nossa saúde física, ou o enfraquecimento das faculdades mentais. Ele não quer que trabalhemos sob pressão ou tensão até ficarmos exaustos, com prostração nervosa. [...] Achando-se esgotado no corpo e na mente, deve afastar-se e descansar um pouco, não para satisfação egoísta, mas para que esteja melhor preparado para os deveres futuros. Temos um inimigo vigilante, que se acha sempre em nossas pegadas, pronto a se aproveitar de qualquer fraqueza que possa auxiliá-lo em tornar suas tentações eficazes. Quando a mente está esgotada e o corpo enfraquecido, ele intensifica sobre a alma suas mais cruéis tentações. Economize suas forças e, quando fatigado pela lida, vá à parte, e comungue com Jesus." (Ellen G. White - Obreiros Evangélicos, pp. 243-246)

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