sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A importância da Metamorfose Ambulante

"Eu prefiro ser
Esta Metamorfose Ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo."
Raul Seixas

Parece que tem sabedoria nas palavras do Raul, apesar de tudo. Provavelmente quando cantava, ele pensava estar criticando o status quo, a estrutura vigente. E nada mais representativo desta estrutura do que o cristianismo. Ele com certeza achava que estava batendo de frente com o pensamento cristão…

Mas será que estava? Somos criticados, nós os cristãos, por mantermos padrões, seguirmos doutrinas e dogmas. Mas o cristianismo vivo e dinâmico nos leva para muito além dos dogmas, aliás, chega a chamar os dogmas de idolatria. 

Este cristianismo nos incentiva a “conhecer e prosseguir conhecendo” (Oséias 6:3), numa busca incessante e sincera: “Buscar-me-eis e me achareis quando me buscares de todo coração” (Jeremias 29:13). Este conhecimento também além de dinâmico deve gerar em nós algum tipo de transformação pessoal. Não é meramente intelectual, mas é vital, humano, entra fundo em nós gerando mudanças constantes.

Só é capaz de buscar aquele que não tem. Para que possamos ser motivados a continuar conhecendo, temos que reconhecer que não sabemos. Este é o estado de alma da metamorfose ambulante. Estou sempre disposto a mudar através do conhecimento que adquiro. Metamorfoseio-me constantemente numa nova pessoa, através de mais revelação da pessoa de Deus. Quanto mais me aproximo d’Ele mais preciso conhecê-lo e ser transformado.

A isto se referiu Carlos Finney, grande avivalista do século XIX, quando dizia que devemos nos converter todos os dias. O que conheço de Deus hoje, não é o suficiente, preciso mais, ainda que este conhecimento novo venha questionar idéias anteriores, desafiar meus conceitos, ou gerar novos paradigmas de comportamento na minha vida.

O cristão não dogmático (soa como uma contradição de termos para você? Pois não é…) não é um cristão sem convicções profundas. Mas ao invés de valorizar em primeiro lugar a doutrina a respeito de seu Deus, ele valoriza seu relacionamento com o próprio Deus. O Deus vivo, dinâmico, que muda, não em caráter e valores morais, mas que muda na sua estratégia de confronto com o ser humano, na dispensação da sua presença, na quantidade de revelação que derrama, Deus que encobre coisas (Deuteronômio 29:29), mas que as revela aos justos (Daniel 2:47). O Deus que vai “brilhando mais e mais” na nossa vida, “até ser dia perfeito” (Provérbios 4:18).

O preço desta vida de metamorfose é muitas vezes uma certa insegurança. Para onde estou indo? Será que isto é certo? É tão fácil se segurar em convenções, que todos o fazem, principalmente os não cristãos… O próprio Raul tinha dogmas. Eram com certeza, os não-não. – Não há Deus, não há caráter humano que preste – não há nada bom no velho, no “establishment”, e com certeza não há nada de bom que se possa esperar no novo também…

A diferença de um cristão e de um pseudo livre-pensador é que o cristão sabe que é limitado, que conhece apenas parte e de que necessita de uma âncora além de si mesmo para se segurar. Esta âncora não é um dogma doutrinário, mas o relacionamento com uma Pessoa, amorosa, sensível e divina. 

O cristão deve a esta Pessoa submissão e humildade. Ele tem que trazer sua mente escravizada a esta pessoa: “trazendo cativo todo pensamento à pessoa de Cristo” (II Coríntios 10:5). Mas o intelectual-liberal, no entanto, não “deve” nada a ninguém. Ele é seu próprio Deus. Sua âncora é sua razão e nela está seu orgulho. “Firmado com os pés no estribo de sua própria razão” (Provérbios 3:6-7), ele nunca vai além de si mesmo, anda em círculos ao redor de seus dogmas pessoais, e vive cego pela idolatria da razão. Este não é capaz de se metamorfosear nunca, porque não há mudança possível para alguém cuja única referência são suas próprias idéias…

Ah, Raul, quão enganado você estava…

Braulia Ribeiro - Ultimato

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