terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Música sacra através dos tempos

Entreouvido num auditório de uma importante universidade do interior paulista, onde um grupo vocal acaba de testar a comunhão da platéia. 
“Esse novo grupo está trazendo a música popular para a igreja. Música sacra era mesmo no tempo dos discos dos Heritage Singers”.

Em um templo dos anos 80:
“Esses Heritage Singers são a cópia dos Carpenters. Música sacra mesmo era nos tempos de Henry Feyrabend e os Arautos do Rei”. 

Em uma igreja dos anos 60:
“Esses que se dizem Arautos do Rei são uns arautos é da tradição dos quartetos de barbearia dos Estados Unidos. Música sacra mesmo existiu nos tempos de Ira Sankey”.

Em um acampamento de reavivamento durante a Grande Depressão em 1929:
“Agora temos que cantar essas valsas de Ira Sankey. Só ouvi música sacra quando cantávamos os hinos de Lowell Mason”.

Em encontro de ministros de música americanos em 1890:
“Esse Lowell Mason imita a tradição européia daqueles músicos maçons. Bom mesmo é quando adaptávamos as canções tipicamente americanas de Stephen Foster”.

Em uma congregação na Chicago de 1860:
“Como podemos adorar com esse piano de cabaré e estas canções adaptadas do teatro de Stephen Foster? Ah, como era bom quando erguíamos nossa voz ao som dos hinos dos irmãos Wesley”.

Em uma palestra sobre música em 1800:
“Irmãos, abandonemos esse cancioneiro popularesco dos Wesley e adoremos com os antigos e sacros hinos do doutor Isaac Watts”.

Nos cultos dos recém-independentes americanos em 1776:
“Essas notas do irmão Watts ferem os ouvidos mais convertidos. Música sacra eram apenas os salmos de João Calvino. Oh, que belos hinos se cantam lá na Europa”.

Em uma igreja luterana alemã de 1730:
“O novo organista, o tal Bach de quem falam, tem um estilo um tanto ultrapassado e escreve notas demais nas suas cantatas. Por que ninguém compõe mais como Lutero?”

Em um concílio eclesiástico no século XVI:
“Esse Lutero destruiu a beleza da santidade da liturgia. Agora o povo anda a cantar melodias de cavaleiros”.
“E, como se não fora o bastante, cantam em língua de homens! Por isto e muito mais, excomunguemo-lo”.

Do lado de fora do templo de Salomão recém-inaugurado:
“É, a música é decerto boa. Mas o pai dele escrevia letras mais sacras”.
“Davi? Qual o quê! Fomos obrigados a cantar salmos com a melodia de ‘Os lírios’ ou de ‘Os lagares’, lembra?”.
“É que as pessoas aprendem um cântico novo mais rápido quando já conhecem a melodia”.
“Aquietem-se, os dois! Vós sois jovens em demasia. Se a ciência já tivesse se multiplicado eu vos mostraria uma gravação do tempo dos cânticos de Moisés. Aquilo, sim, é que era a verdadeira música sacra”.
Joêzer Mendonça

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